
A televisão também é um reflexo da sociedade que vivemos. Será que ela reflete a cultura brasileira como deveria? Vejamos o caso do Festival de Parintins.
O último final de semana de junho é o mais esperado do ano na cidade de Parintins (AM). É quando acontece seu famoso Festival Folclórico. Os bois bumbás Garantido e Caprichoso se apresentam nas noites de sexta, sábado e domingo no Bumbódromo num duelo de muita alegria, amor e dedicação que vem depois de um ano inteiro de trabalho, alegorias grandiosas e, principalmente, exaltação as tradições amazônicas.
Esse costume começou no século XIX com os imigrantes maranhenses que foram para o Amazonas trabalhar na extração da borracha. Eles trouxeram do seu estado de origem suas tradições, entre elas a festa do Bumba Meu Boi. Com o passar dos anos, a festividade foi ganhando tantas influências amazônicas que gerou outra manifestação cultural, o Boi Bumbá. Garantido e Caprichoso se apresentavam e faziam seus eventos desde o começo do século XX quando foram fundados. O Festival Folclórico teve sua primeira edição em 1965. Outros bois bumbás também participaram do festival ao longo dos anos, mas apenas Garantido e Caprichoso se consolidaram.
A partir da década de 90, a TV brasileira passou a prestar mais atenção no festival através de reportagens, flashes na programação e transmissões na íntegra. Porém, essas nem sempre eram pra todo o Brasil. Passou pela TV Amazonas (afiliada da Globo no Amazonas), TV A Crítica (quando era afiliada do SBT no Amazonas), Band, Record News e voltando pra TV A Crítica, agora afiliada da Record no Amazonas. Neste ano, o festival voltou a ser transmitido pra todo o Brasil pela TV Cultura em parceria com a TV A Crítica. Claro que não chegou a liderar a audiência do horário, mas foi uma iniciativa louvável pra mostrar pro Brasil que nossa cultura merece ter mais espaço na televisão. Mas o destino da transmissão do festival nos próximos anos ainda é uma incógnita.
A cultura brasileira é tão rica e diversificada que nem sempre nos lembramos disso, muitas vezes achamos que apenas o que está perto de nós é o melhor, o mais importante. O Festival de Parintins vai muito além da festa apresentada no Bumbódromo. Gera empregos, gera renda, principalmente com o dinheiro dos turistas vindos de várias partes do Brasil e do mundo para assistir ao festival. Traz formação para crianças e adolescentes que através de cursos oferecidos pelos Bois aprendem mais sobre esses e toda sua cultura. Meninos e meninas são preparados para serem o futuro do festival seja se apresentando, seja trabalhando na construção da alegorias. O talento de artistas parintinenses é também aproveitado na construção de carros alegóricos nas escolas de samba do Rio de Janeiro e de São Paulo. É a cultura ajudando a si mesma.
Será que o Brasil realmente se vê na TV? Não apenas nos noticiários sobre política e economia? O que será que falta pra mais pessoas entenderem que manifestações culturais como o Festival de Parintins vão muito além de músicas e do aspecto visual das danças, fantasias e alegorias? Televisão não é instituição de caridade, nem escola. Precisa de faturar. Mas será que apenas os números da audiência servem pra medir o que deve ou não ser exibido? Perguntas que as respostas vão muito além do que se imagina.