Uma bem-sucedida história de 12 anos tem seu mais recente capítulo sendo contado desde agosto aos domingos. É a atual temporada da Dança dos Famosos, grande sucesso e garantia de uma boa audiência ao Domingão do Faustão (Globo).
Que começou com uma modificação em relação as últimas edições. A primeira fase, quando homens e mulheres dançam alternadamente a cada programa pra conquistar a maior quantidade de pontos possíveis e fugir da repescagem, ganhou mais tempo, totalizando inacreditáveis 10 programas. Bom para os participantes famosos, mais tempo de exposição garantida. Nem tão bom assim para a dinâmica da competição. Precisa mesmo de tanto tempo assim pro participante que não foi bem em um programa se recuperar no programa seguinte? Seria influência do Dancing Brasil, mesmo exibido em outro dia e horário, mostrando que não tem mais o monopólio de competição de dança com celebridades na TV brasileira? Perguntas que não querem calar.
Com o passar dos programas, os destaques dos mais variados tipos foram surgindo. As atrizes Isabella Santoni e Maria Joana e o humorista Lucas Veloso mostraram ser excelentes dançarinos e favoritos na conquista do título. A atriz Mariana Xavier e o ator Raul Gazolla mostram que dançar com dignidade não é apenas para quem é magro e jovem. Apesar de que ele e o nadador Thiago Pereira deram adeus à competição na repescagem. Pena que Raul não durou mais na competição. Para dançar ritmos mais conhecidos da dança de salão e relembrar os tempos da novela Kananga do Japão (Manchete 1989/90), onde interpretou um dançarino e nos bastidores conheceu a inesquecível Daniela Perez, que algum tempo depois se tornou sua esposa. No caso de Mariana, mesmo com a polêmica da nota 9 dada pela atriz Carolina Kasting, que deu notas maiores a quem dançou pior. Uma nota, digamos, estranha. A alegria de Adriane Galisteu é contagiante, transparece toda a felicidade de participar do quadro, do clichê da experiência transformadora que ele proporciona aos participantes e também a esperança de quem sabe conseguir um trabalho fixo na emissora do plim plim. Embora ainda está devendo na dança. Assim como sua companheira de repescagem que voltou pra competição, a atriz Cris Vianna. Ao contrário de Viviane Araújo, vencedora do quadro em 2015, Cris mostra que ser rainha da bateria de uma escola de samba não é garantia de saber dançar bem.
Outros clichês dos anos anteriores também continuam marcando presença quando não deveriam mais. Notas 10 distribuídas a torto e a direito por quem deveria julgar mas parece estar a passeio, "graças a Dança dos Famosos as pessoas estão querendo aprender dança de salão/os homens estão dançando mais" e por aí vai. Mas um deles veio ainda mais forte neste ano, os beijos na boca. Esperados por uma parcela do público e por alguns participantes, no final das contas desviam o foco da apresentação, deixa a dança bem longe do primeiro plano. Por várias vezes a relação entre celebridade e professor de dança vai além dos ensaios e apresentações, vira algo mais. Tanto no Brasil quanto em outros programas do tipo no exterior. Mas dançar num programa de TV não é e nunca foi a mesma coisa de fazer uma cena romântica de novela. A sensualidade pode ser bem integrada a dança sem virar um Sexy Hot, como diria o próprio Faustão. Um olhar pode ser mais sensual que um beijo na boca. Se é uma competição de dança, é aconselhável que ela esteja em primeiro lugar. Outro clichê é a insistência em ritmos que fogem da dança de salão, como country e os indefinidos rock (se dividindo entre anos 60 e rock nacional dos anos 80) e "baladão" (se dividindo entre o pop atual e a discoteca dos anos 70) com suas músicas que poderiam ser aproveitadas em outros ritmos. A Dança dos Famosos acaba perdendo uma ótima oportunidade de realmente divulgar a dança de salão como fazia a alguns anos atrás. O Dancing Brasil, que já foi assunto por aqui, procura aproveitar melhor essa oportunidade. Sim, é preciso que haja o show, pra chamar a atenção do público, a TV precisa muito dele. Mas se pensar exageradamente e apenas no show, o formato da atração acaba sendo esquecido.
A competição chegou na fase semifinal reunindo além dos já citados Lucas, Isabella, Joana, Mariana, Adriane e Cris; o apresentador Joaquim Lopes, o ator Nicolas Prates, que foi mais comentado pelo beijão de novela que deu na sua parceira na apresentação do country do que pelo seu desempenho como dançarino na competição, e o ator Rafael Zulu. Até a publicação deste texto, na primeira parte do foxtrot o destaque negativo foi a favorita Isabella Santoni, que não estava numa boa noite, teve as piores notas e corre o risco de ser eliminada precocemente da competição. Mas ainda faltam 4 competidores que se apresentarão no próximo domingo, dia 12, com 2 eliminações. Ainda teremos vários domingos emocionantes com esta competição. Que pode ser melhorada em vários sentidos, mas garante divertidos momentos pra quem assiste e participa, e a garantia de boa audiência e bom faturamento para a Rede Globo.