Pois é, desde que casei passei a pensar o lugar da mulher na sociedade de um outro ponto de vista. Sempre me dei o direito de ser dona de mim e não deixar que os outros direcionassem as minhas decisões. Não que isso tenha sido fácil. Antes de casar, as colegas, amigas e vizinhas me perguntavam sempre, (antes de falar oi, tudo bem? )“Está namorando? Está noiva? Vai casar?”.
Mas, não me recordo de ter visto um homem chegar esbaforidamente perguntando para o outro se ele está namorando, se vai noivar, se vai casar, se vai ter filhos e quando... Assim que casei, muitas mulheres vieram me perguntar, você sabe cozinhar? Porém, ninguém perguntou ao meu marido se ele sabia cozinhar, ou até algo mais careta, tipo coisa de homem, trocar o gás, ou consertar o chuveiro....
A partir disso, fiquei pensando... A verdade é que ninguém ensina uma mulher a ser mulher! Me recordo de vários alguéns me dando dicas de como ser organizada, limpa, delicada, boa amiga, boa amante, boa companheira, uma funcionária competente, ganhar bem, ser uma boa mãe, ser educada, polida, sensata, equilibrada, a me vestir bem, não causar má impressão, não ficar mal falada...
Bom, acho que todas sabemos bem essa cartilha, mas onde se perdeu a cartilha que se dá dicas a uma mulher ser mulher? Bom, a minha eu adquiri pela vida, pela arte, pelas ruas, pelo teatro, pelo mundo, e não foi fácil decodificá-la. Ainda estou desvendando alguns capítulos e tenho certeza de que não sou uma exceção.
Espero ser a geração de mulheres que vai ensinar suas filhas a serem mulheres, a gostarem de si, a se fazerem felizes, a tomar decisões escolhendo o que traz a sua própria felicidade, a ser merecedora do prazer, do sucesso... Seja em qual área da vida for, pessoal, familiar, profissional, financeira, social... Enfim, que em tudo suas escolhas partam de um grande tesão pela vida e cada dia seja de vinte e quatro horas de orgasmos múltiplos.
Engraçado, me parece ultrapassado ter que discutir isso hoje em dia, principalmente quando já há uma grande discussão sobre uma nova definição de gêneros, o que acho muito pertinente. Porém, ainda há um grupo grande de mulheres reféns do que fizeram delas, e pior, fazendo o mesmo com suas próximas.
Mas bem, independente de gênero, e se você é alguém que quer ou não quer casar, se quer ou não largar tudo e viver para os filhos, para os animais, ser ou não ser contracultura... O que importa é pensar o que te faz feliz? Você está inteiro? Você respeita a sua integridade? Suas escolhas partem desse princípio, ou você está permitindo que interfiram e firam a sua alma?
Bom, hoje, fico com a reflexão da escritora francesa, intelectual, filósofa existencialista, ativista política, feminista e teórica social, Simone de Beauvoir, “Não acredito que existam qualidades, valores, modos de vida especificamente femininos: seria admitir a existência de uma natureza feminina, quer dizer, aderir a um mito inventado pelos homens para prender as mulheres na sua condição de oprimidas. Não se trata para a mulher de se afirmar como mulher, mas de tornarem-se seres humanos na sua integridade.”