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Escolhendo o repertório e fazendo escolhas sobre ele


Cantor que não se acompanha tocando violão ou teclado, e, portanto, depende de outros para isso, já sabe que escolher um tom diferente do original pode criar um climão na banda. Se ele faz uma interpretação diferente do esperado, que fuja muito da interpretação que já foi gravada um dia, então, lascou-se. Piadas à parte, esta discussão é fundamental no contexto de bandas/grupos que interpretam canções com gravações já consagradas, de qualquer gênero.

Muitos ouvintes e até mesmo membros da banda esperam que a sua versão de determinada canção soe exatamente como a original. É claro que existem casos especiais. Por exemplo, se a proposta for ter uma banda cover de uma outra banda apenas, glorificando o seu trabalho, ou se em um musical a pessoa interpreta um personagem que tenha sido/seja um músico de renome, realmente é natural que se espere a máxima semelhança possível. Porém em outros casos, a diferença pode ser a melhor das qualidades!

A escolha do repertório, de sua ordem (coisa pra qual muita gente não dá importância), da intenção que se dá ao cantar cada canção, dos arranjos, e do TOM das canções é essencial.

Em 1913, Igor Stravinsky viu a sua A Sagração da Primavera ser estreada em Paris, e aquela estreia causou grande agitação, e um dos motivos foi a linha inicial do fagote.O espanto era pela região hiper aguda na qual o instrumento soaria. Stravinsky foi um compositor de alto calibre, poderia ter escrito aquela linha pra qualquer outro instrumento musical que a fizesse soar mais confortável, mas a escolha da escrita naquela região era pra causar aquela sensação mesmo.

Nas canções acontece algo parecido. Algumas canções foram feitas pra serem cantadas com voz mais próximas à falada, outras, mais agudas, outras muito basais. Claro que aqui também cabe a escolha interpretativa, mas desde que ela seja feita por motivos interpretativos, e não pra agrada o guitarrista preguiçoso que não sabe lidar com transposições.

Cada voz é única (sim, por isso que alguns sistemas de segurança são feitos com base em identificação de voz), e ela soa diferente de outras nos mesmos tons. A escolha do tom deve ser feita canção a canção, estudada, pensada, para que a voz soe o melhor possível dentro do que se escolheu de linha interpretativa.

Isso vale quase em todos os casos. As grandes exceções são, como dito acima, os casos de tributo a uma voz consagrada ou em casos de peças mais fixas como óperas, onde não é o interprete que escolhe a música, mas a música que escolhe o intérprete (você pode amar a Ária da Rainha da Noite - Flauta Mágica - do Mozart e ser um tenorzão maravilhoso, sinto muito, você jamais vai cantá-la a não ser no chuveiro ou num espetáculo cômico).

Então, cantor, se empodere, dê um chega pra lá na preguiça do guitarrista da sua banda e diz pra ele que o seu instrumento, ao contrário do dele, é único e tem de ser respeitado como tal!

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