Quando comecei a trabalhar por conta própria, tive que aprender a eu mesma definir meus horários de trabalho, e logo também os horários de descanso. Para dividir os espaços, comecei a me dar direito a assistir um filme para relaxar, foi a única coisa que funcionou para me desligar do pensamento no trabalho.
Resolvi trabalhar por conta própria para daqui há um tempo, quando eu resolver ser mãe, poder desfrutar das duas funções equilibrando tanto o prazer profissional quanto o maternal. Acho que ainda não cheguei em todos os lugares que quero, mas bem, estou à caminho.
Enquanto prossigo, escolho leituras, peças, workshops entre outros, que me façam pensar sobre a saúde dos relacionamentos, principalmente os familiares, especificamente, o de mãe e filhos. Pois, são as novas famílias que construirão a nova sociedade.
Atualmente, descobri uma nova paixão: filmes independentes. Geralmente são filmes de baixo orçamento, porém de muito conteúdo sensível,contundente, humano e reflexivo. E algumas pequenas grandes reflexões me vieram a mente quando assisti “Quando me apaixono”.
O longa conta a história de April (vivida pela atriz Helen Hunt), casada com Ben Green (Matthew Broderick), prestes a chegar aos 40 anos, April deseja desesperadamente ter um filho. Suas tentativas não dão certo e, ainda por cima, seu marido deseja se separar.
Em seguida, sua mãe adotiva falece e ela é procurada por Bernice Graves(Bette Midler), uma apresentadora de TV que diz ser sua mãe biológica.Perdida em meio a tantas reviravoltas, April conhece Frank (Colin Firth), opai de um de seus alunos, que também vive um momento conturbado devido a uma recente separação.
Não vou contar o final do filme, nem como a estória se desfecha para não estragar nada para quem quiser assistir. Mas, vou dividir o que essa arte me fez compreender. Achei interessante a forma como eles abordam o tema da adoção, fez-me ver o que pode se passar no universo interior de pais e filhos envolvidos nessa situação.
Muitas pessoas que são adotadas preferem não conhecer seus pais, outros sim, mas a questão mesmo que não visitada, já está posta, o drama está posto, alguém te pôs no mundo e sumiu, e o que fazer com isso? E do outro lado, como é deixar alguém que veio de você ir, e não sentir nada? E do terceiro lado, como é criar alguém que não veio da sua genealogia, que não traz consigo a sua bagagem psicológica e emocional , seus traços, seus trejeitos ou as características do seu companheiro?
Como aplacar todas essas questões, porque alguns são “sorteados” com essa angustia e sofrimento? Algumas pessoas dizem que adotar não é a mesma coisa, outros dizem, que é sim. Mas entendi o seguinte, não, não é a mesma coisa, cada situação tem suas peculiaridades, seus privilégios e suas dores.
Mas uma coisa é fato! Sempre teremos alguma espécie de ligação com quem nos trouxe ao mundo, nem que seja apenas a pergunta. Mas, também não existe viver sem ter vindo de alguma relação, nascemos de relações, em seguida construímos relações e não existe relação que não cause expectativas, conflitos, frustrações e, ou, perdões e amor (seja umarelação de sangue ou não).
As coisas podem ser diferentes sim, nossas expectativas podem ser contrariadas, muitas vezes a vida pode nos surpreender e trazer algo diferente do que queríamos. Na verdade, a dor do nascimento é sempre presente, a cada travessia do dia, sentimos medo do que está do outro lado.
A mesma mão que te alimenta pode ser a mesma que te fere, no mesmo dia em que há choro também pode haver o riso, mas os dois, tanto o sorrir quanto o sofrer estão no mesmo lugar, no sentir. Seja qual for sua história, haverá uma dor, a dor faz parte de qualquer nascimento, esse é o caminho para atravessar-se a si mesmo e para se realizar com o que virá a ser o novo.