
Desde o dia 30 de setembro a Globo exibe no horário das 18 horas a sua versão da novela Éramos Seis. A trama de Angela Chaves, baseada no texto de Sílvio de Abreu e Rubens Ewald Filho, que é uma adaptação do livro de mesmo nome escrito por Maria José Dupré, mostra as aventuras e desventuras do dia a dia do casal Lola (Glória Pires) e Julio (Antônio Calloni) e seus filhos Carlos (Xande Valois/Danilo Mesquita), Alfredo (Pedro Sol Victorino/Nicolas Prattes), Isabel (Maju Lima/Giullia Buscaccio) e Julinho (Davi de Oliveira/André Luiz Frambach) entre as décadas de 1920 e 1940 em São Paulo.
O livro Éramos Seis foi lançado em 1943. A trama da Globo é a 5ª adaptação para a TV. A primeira foi exibida pela Record em 1958 e protagonizada por Gessy Fonseca e Gilberto Chagas. Eram apenas 2 capítulos por semana, as novelas ainda não eram diárias. A segunda foi exibida na TV Tupi em 1967, durou apenas 1 mês e foi protagonizada por Cleyde Yáconis e Silvio Rocha. Julinho adulto foi interpretado por um garoto promissor de apenas 18 anos, Tony Ramos. 10 anos depois, Éramos Seis voltava a telinha da Tupi numa nova versão com mais capítulos e personagens. A trama, protagonizada por Nicette Bruno e Gianfrancesco Guarnieri, foi a estreia de Silvio de Abreu e Rubens Ewald Filho como autores de novela. Mesmo com a concorrência de Locomotivas, na Globo, o que fez o começo da segunda fase de Éramos Seis marcar a mudança do horário de exibição pra meia hora mais tarde, a novela da Tupi fez sucesso. Pouco depois do fim da trama, os autores foram contratados pela Globo. E a carreira de autor de Silvio de Abreu deslanchou de vez. Entre outros aspectos, uma mudança em relação ao texto do livro é em relação ao ponto da história em que Carlos morre devido a uma necessidade da Tupi. A emissora queria Carlos Augusto Strazzer (Carlos) ou Carlos Alberto Riccelli (Alfredo) protagonizando O Profeta (sim, é a primeira versão daquela novela que a Globo exibiu originalmente em 2006/2007). O jeito foi antecipar um pouco e até mesmo de maneira heroica a morte de Carlos para que Carlos Augusto pudesse deixar Éramos Seis e começar a gravar O Profeta. Uma dessas mudanças trazidas pela novela não agradou a Maria José Dupré, o fato de Júlio ter uma amante, Marion (Carmem Marinho). Segundo a autora do livro, isso aumentou ainda mais o sofrimento na vida de Lola. A novela também nos lembra que nem sempre o parentesco da vida tem que se repetir na arte quando se trata de uma mesma obra. Beth Goulart, na época com apenas 16 anos, fez a novela, mas em um núcleo diferente do de sua mãe, Nicette Bruno. A então garota entrou na 2ª fase interpretando Lili, filha do divertido casal Genu (Maria Célia Camargo) e Virgulino (João José Pompeo), vizinhos de Lola e família. Alguns capítulos desta e de outras novelas da Tupi estão disponíveis na internet e são uma ótima maneira de conhecer um pouco mais da emissora pioneira da TV no Brasil. Alguns anos depois Silvio de Abreu vendeu seus direitos sobre o texto de 1977 ao SBT e Rubens Ewald Filho fez as modificações necessárias para que a 4ª adaptação para a TV de Éramos Seis fosse ao ar em 1994. Provavelmente a mais lembrada pelo público. A novela emocionou antes mesmo de começar. Na noite de 2 de maio daquele ano, em vez do primeiro capítulo, Irene Ravache, que interpretou Lola, avisava ao público que a novela não poderia ir ao ar num momento tão triste, devido a morte de Ayrton Senna, e que a estreia de Éramos Seis foi adiada por 1 semana. Quando a trama foi ao ar, o sucesso foi imediato. A emissora praticou um de seus esportes favoritos, colocar o horário de exibição fugindo da concorrência da Globo. A novela era exibida depois da novela das 7 com reprise logo após a novela das 8 que começava quase às 9. Não chegou a liderar a audiência, mas o SBT deu trabalho para a Globo nos horários de exibição e retomou em grande estilo às produções próprias de teledramaturgia. Entre outros nomes, o elenco contou com vários nomes conhecidos de novelas da Globo como Othon Bastos (Júlio), Tarcísio Filho (Alfredo adulto), Mayara Magri (Justina), Denise Fraga (Olga) e Osmar Prado (Zeca). E no elenco infantil, também entre outros nomes, contava com Caio Blat (Carlos criança) e Wagner Santisteban (Alfredo criança) que não eram iniciantes mesmo com a pouca idade na época, e Francis Helena (Silvinha, filha de Isabel e neta de Lola e Júlio), 3 anos antes de ficar famosa na primeira versão brasileira de Chiquititas. A produção foi a estreia de Ana Paula Arosio como atriz. Foram poucos capítulos como Amanda, uma jovem que se envolve com Carlos, mas que foram notícia pelo completo despreparo de Ana Paula. Que deu a volta por cima. O êxito desta versão de Éramos Seis não foi esquecido pelo público, que sempre quis rever a trama. O que aconteceu em 2001 e, pelo jeito não acontecerá de novo. Silvio de Abreu comprou de volta seus direitos sobre o texto de 1977. Inviabilizando a reprise da novela de 1994.
O novelista e atual diretor de dramaturgia da Globo repassou o texto a Angela Chaves para a adaptação e assim surge a atual versão de Éramos Seis. Que já vem recebendo elogios de público e crítica. A Lola 2019 é menos submissa em relação às anteriores e isso desperta um questionamento, qual é o limite entre retratar os costumes numa novela de época e tornar as características dos personagens agradáveis aos telespectadores dos dias atuais? Antes mesmo de ser uma forma de diversão, a novela de época é um retrato do tempo em que é ambientada. Não apenas nos cenários e na caracterização do elenco. Nem sempre autores e emissoras andam se lembrando disso.
76 anos depois do primeiro lançamento, os muitos livros vendidos e as 5 versões para a televisão mostram que ao mesmo tempo que retrata uma época, os conflitos de Lola, Júlio e seus filhos são atemporais. Nos identificamos com os personagens, outras vezes eles nos fazem lembrar pessoas queridas. E tem tudo pra encantar ainda mais gerações. Começando por quem está conhecendo agora esta história que tem sua dose de tristeza, nos lembra das dificuldades da vida, que mesmo assim não deixa de ser encantadora.