Entre os dias 3 e 24 de novembro, aos domingos às 23h45 o canal Viva exibiu a minissérie Abolição. Exibida originalmente entre os dias 22 e 25 de novembro de 1988, a trama de Wilson Aguiar Filho mostra o importante fato da história do Brasil que dá nome a minissérie através do casal negro Iná (Angela Corrêa) e Lucas (Luis Antonio Pilar). Iná é a líder espiritual dos escravos da fazenda do Coronel Macedo Tavares (Milton Moraes), uma mulher forte e guerreira que defende a manutenção da identidade africana a qualquer preço. Lucas é alforriado e mais calmo que sua amada, procura viver em harmonia com os brancos, acha que o fim da escravatura virá por meio das leis. Pouco tempo depois, a intuição do rapaz se torna realidade quando a Princesa Isabel (Tereza Rachel) assina a Lei Áurea no dia 13 de maio de 1888. Mudando de maneira marcante a trajetória dos nossos herois.
Os 100 anos da abolição da escravatura no Brasil foram um assunto bastante presente na mídia durante o ano de 1988. Começando no Carnaval. Quando a Vila Isabel conquistou o título do Grupo Especial do desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro daquele ano apresentando o enredo Kizomba - A Festa da Raça, que mostrava reflexões sobre a influência negra na cultura universal, a situação do negro no mundo, a abolição da escravatura, Zumbi dos Palmares e outros líderes pacifistas. A Globo produziu uma vinheta especial para esta marcante ocasião com a presença de famosos negros desejando “axé pra todo mundo, axé”.
Especialmente no mês de maio o assunto se tornou ainda mais presente em várias formas de produção. Como no comercial que fez Angela Corrêa se tornar conhecida do grande público, quando dizia que quando sua filha crescer, será “negra, linda e livre”. Pouco tempo depois, veio Abolição, seu trabalho mais conhecido. Interessante perceber a aposta em dois atores sem muita experiência em TV protagonizando a minissérie. O que não é muito comum até hoje. O elenco também contou com nomes conhecidos do grande público como Emiliano Queiroz e os inesquecíveis José Lewgoy e Mário Lago. E aproveitou outro sucesso publicitário com a presença da então menina Cinthya Rachel, que se tornou conhecida como a garota propaganda de uma famosa marca de refrescos em pó. O fato de Abolição ter sido exibida na semana do dia da consciência negra, 20 de novembro, fez lembrar que a reflexão sobre o que mudou ou não para os negros vai muito além da marca comemorada no dia 13 de maio.
Abolição foi a primeira parceria da Globo com produtoras independentes. Neste caso, a Avan, que pertencia a Walter Avancini, diretor de grandes sucessos da teledramaturgia brasileira, e a Cininvest Produção Vídeo Cinematográfica. Marcou o começo de uma nova forma de produzir teledramaturgia. Esta parceria rendeu uma espécie de continuação, a minissérie República, exibida no ano seguinte marcando os 100 anos da Proclamação da República. Lucas e o núcleo da Família Real estavam de volta nesta produção.
Esta reprise até mesmo surpreendente de Abolição nos mostrou que as reflexões que ela traz continuam muito atuais. Nestes 31 anos que separam as 2 exibições da minissérie aconteceram alguns avanços em relação a maneira que os negros são vistos e valorizados. Mas ainda falta muito a ser feito. Abolição continua muito atual e nos faz pensar. 131 anos depois da abolição da escravatura será que depois de tantas mudanças em vários aspectos será que a sociedade brasileira realmente acompanhou essas transformações?