Depois de anos de muitos sonhos, comentários e fofocas, o que parecia improvável se tornou realidade. Em 2010 estreou o canal Viva nas principais operadoras de TV a cabo do Brasil. O tão sonhado canal de reprises de programas da Rede Globo.
Finalmente o público pode recordar o passado através de programas e novelas que marcaram suas vidas. Será? Nem todos se lembram que o Viva nunca esteve totalmente preso ao passado. O canal também sempre teve semelhança com alguns de seus co-irmãos da Globosat. Assim como o GNT, com programas voltados ao público feminino. Assim como Sportv e Globo News, reprisando programas recentes da Rede Globo. Mesmo com as reprises naturalmente dominando a grade de programação do canal, ainda assim tem quem ache que devia ter ainda mais reprises de programas antigos, de preferência ainda mais novelas. Como se a história de 52 anos da Globo fosse feita apenas de novelas. Como se o presente fosse feito totalmente de passado. Também se misturando com o presente e o futuro enquanto produtora de programas inéditos com formatos bem conhecidos, "remakeando" Sai de Baixo, Escolinha do Professor Raimundo, Globo de Ouro e Chacrinha. Claro que sem todo aquele encantamento dos anos 80 e 90, mas divertindo de uma outra forma e fazendo pensar sobre o que mudou, ou não mudou, com o passar dos anos.
Ainda bem que o cardápio do canal procura ser o mais variado possível. Mas dizer que este ou aquele programa é pior ou melhor é algo muito subjetivo. Nem sempre nos lembramos que cada pessoa tem sua própria opinião e que o mundo não gira em torno de nós mesmos. Porque a criança dos anos 80 tem mais direito de recordar seus bons tempos do que a criança dos anos 90 e 2000? Será que os mais jovens cometeram o "crime" de exatamente ser mais jovens? É sempre bom lembrar também que infelizmente o Viva ainda não é uma espécie de irmão do Netflix, que bastasse apertar alguns botões pra televisão mostrar exatamente o que nos agrada. Nem sempre existe uma necessária paciência para esperar que o canal mostre exatamente o que a gente quer. A atração que pra mim foi um lixo, pra você pode ser maravilhosa, um clássico. É sempre bom lembrar também que antes do programa chegar até a telinha existe um processo complicado. Com muitas negociações com quem nem sempre está disposto a negociar. Atores, atrizes, representantes das famílias dos artistas que não estão mais entre nós, representantes das gravadoras e de outras entidades ligadas aos direitos autorais de cada música da trilha sonora e por aí vai... Se não negociar pode ficar ainda pior. O processo que a atriz Giovanna Antonelli moveu contra o SBT devido a reprise da novela Xica da Silva (Manchete, 1996/97) que o diga.
Claro que o Viva ainda está longe do ideal de equilíbrio na sua grade de programação. Muitas vezes o canal não se lembra como deveria que seu público vai muito além dos jovens com seu enorme potencial de consumo e ainda bastante ligados a televisão, ao contrário do que muitos imaginam. Mas ainda bem que ele existe. Mesmo tendo meus questionamentos em relação a programação e a forma que a imagem dos programas mais antigos chega aos televisores, que não vem ao caso agora. Porque vai muito além de matar um pouco que seja da saudade dos bons momentos que vivemos, lembra que a TV brasileira tem sua história que poderia ser mais valorizada, mesmo levando em conta os naturais interesses comerciais envolvidos, e que é importante pra ajudar a escrever seu próprio futuro. Que pra ser planejado precisa de muito mais do que o presente.