
Hoje, muito de nossa arte e cultura nasce como mercadoria de marketing a partir do momento em que o lucro é o fator principal em uma produção artística. Além disso, quando a busca pelo sucesso financeiro é tido como primordial e colocado à frente de qualquer outra coisa, aposta-se no clichê para agradar ao público gerando homogeneidade cultural.
Para que o maior número possível de pessoas se identifique e consuma um determinado produto artístico seguem-se fórmulas de sucesso ou copia-se o que atingiu um grande público impedindo, desta forma, o surgimento do novo. Para manter a indústria cultural funcionando a todo vapor com altos lucros, cria-se uma tendência de mercado lucrativa que permaneça por muitos anos. Com isso, a arte torna-se repetitiva, superficial e seu conceito primordial deixa de existir. Não há mais necessidade de entendê-la profundamente, pois já não existe um sentido profundo nesta. A arte torna-se um objeto de consumo imediato sem reflexões posteriores onde o sentimental é tudo e o racional é nada.
A arte seria o simples profundo, o simples que traz reflexão, diferente do banal. Para isso, é preciso decompor toda a complexidade, o que é difícil. O brilho, a sedução formal, que fazem com que a participação do público seja mecanicista, deve ser eliminado. Na “indústria cultural” isto não ocorre. Seu objetivo é prender o público através do sentimental. Ela é artificial, planejada e, ao invés de elevar o homem, o escraviza. Seu problema não é que a cultura vira mercadoria e, sim que ela já nasce mercadoria. Todos que visam o sucesso fazem a mesma coisa com objetivos comerciais como se seguissem uma fórmula para o auge, impedindo assim, que a cultura se renove e inove. Muitos artistas fazem sua arte pensando se esta vai vender ou não. O produto já nasce como mercadoria de marketing seguindo um modelo de como agradar ao público buscando o clichê. Na “indústria cultural” a própria arte se integra ao sistema. Ela, que deveria servir como forma de resistência, de saber, de propagação de conhecimento, faz justamente o contrário. Se adequa aos interesses do poder em prol do lucro.
Não é possível o surgimento do novo em uma cultura estagnada onde as idéias são ditadas de cima para baixo. Neste caso, o novo não encontra espaço e se mantém às margens da sociedade. Apenas aquilo que alimenta as expectativas do capitalismo e da “indústria cultural” encontra espaço.
Se o consumismo segue um padrão que possibilita o consumo imediato da produção cultural com o objetivo de distrair a massa menos esclarecida, o nível de qualidade se reduz, causando apatia e empobrecimento estético. A verdadeira arte vai sendo substituída por uma série de efeitos e padrões, de forma a unificar os gostos. O que importa é o lucro e não o conteúdo. A sociedade de massa degrada a cultura em indústria de diversão.
Existem boas produções culturais, seja no cinema, na música, no teatro ou em outras formas de manifestações artísticas, mas estas ficam restritas a um pequeno público interessado na cultura alternativa. Festivais independentes de cinema, música e teatro revelam alguns grandes artistas que não conseguem espaço na mídia. Por isso, não conseguem levar seu trabalho adiante ou o fazem com muita dificuldade, de forma que não é possível sobreviver e se sustentar com o lucro gerado por esta. Infelizmente, para grande parte da sociedade atual, só o que aparece na mídia é bom e o que não aparece não tem valor.
A lógica do lucro a todo custo faz com que caminhe-se rumo ao que vende causando homogeneização cultural. Em parte, isso é fruto do desenvolvimento tecnológico, da mídia e de sua alta capacidade de reprodução e seriação.
Hoje, temos uma gama muito grande de opções de entretenimento e de formas de propagação de informação através dos media. Porém, evolução tecnológica não significa melhoria cultural e informacional. Dos anos 70 até hoje, houve uma regressão em relação à cultura com o apoio da mídia e, com a TV digital, a tendência é piorar. No entanto, não podemos culpá-la pela decadência cultural por que passamos atualmente. A televisão, por exemplo, põe no ar aquilo que aumenta o Ibope. Com a busca do alto índice de audiência e do furo, não há diversidade. Os canais veiculam o que tem consumo certo, gerando homogeneização entre si. Ao transmitir somente o que vende, conseqüentemente, transmitem o que o público quer consumir, se tornando democráticos. Hoje os meios de comunicação configuram a sociedade em que vivemos.
Porém, esta é uma democracia forjada. Os capitalistas querem somente investir naquilo que tem garantia de venda, sem arriscar em algo novo, o que também contribui para o estacionamento da cultura. Formas intelectualizadas de programa não possuem espaço. Assim, caímos num círculo vicioso. O povo, alienado e carente de conhecimento, prefere os enlatados que não levam a sair do cômodo, a ter grande desprendimento de energia no entendimento de programas de qualidade. Foge ao seu costume, assistir produtos televisivos que levem ao raciocínio e questionamentos. Devido a esta própria falta de conhecimento, não cobram uma melhor programação e sequer se interessam por programas que saiam deste comodismo intelectual ao qual se acostumaram. Se depender do poder, incluindo a mídia como parte deste, continuará desta forma, pois assim, é uma maneira mais fácil de manipular a sociedade.
O problema não está em assistir televisão, em consumir produtos como o Big Brother ou assistir novelas. Em países desenvolvidos, a audiência para programas do tipo também é grande. Porém, lá a população tem acesso a diferentes formas de lazer, como o teatro, cinema, espetáculos musicais. A cultura está ao alcance de todos, ao contrário do Brasil que valoriza pouco, não só a cultura, mas a educação em si. Para alguns brasileiros, a única opção de lazer é a televisão. Em países desenvolvidos, há incentivo para o uso de tecnologias digitais e a qualidade de vida é bem maior. A solução seria melhorar a educação do povo e a grade televisiva.
Vivemos numa sociedade com a cultura enfraquecida. Há baixa produção de conhecimento e de questionamento a respeito daquilo que é falado. É através de questionamentos e discussões saudáveis que a cultura se fortalece. A produção industrial sela a degradação do papel filosófico existencial desta.
Por isso, o homem moderno precisa buscar aprimorar seu conhecimento e senso crítico. A carência cultural torna-o manipulável a partir do momento que deixa-o inerte funcionando como mero espectador e receptor daquilo que a indústria cultural oferece. A falta de estímulo intelectual gera cidadãos menos questionadores e mais passivos, sem capacidade de reflexão e crítica. Uma sociedade mais questionadora pode exigir receber cultura e arte com mais qualidade e que, inclusive, gere ela mesma, maior aprimoramento cultural. Quanto mais tempo aceitarmos arte enlatada, mais vulneáveis ficamos. E mais produtos homogêneos nos oferecem.
Estamos vivendo um tempo de transformações e mudança de paradigmas nas áreas política,econômica, ambiental, social e cultural. Logo, isso trará impactos na área das artes, do conhecimento e da reflexão. Obter e compartilhar conhecimento, refletir e evoluir através dele e em conjunto com nossos pares, seja no trabalho, em casa ou no momento de lazer poderá ser algo primordial e inevitável daqui para frente. Isso trará impacto também nas artes que trarão o reflexo dessa nova busca do homem. Logo, aqueles que fazem arte para levar transformação seja no mundo exterior ou no interior das pessoas, podem encontrar nesses novos tempos o momento ideal para realizar seu trabalho.