Os anos 80 continuam firmes e fortes na telinha do Viva. Um grande exemplo disso é a novela Sinhá Moça nas tardes do canal desde o dia 29 de janeiro. Adaptação de Benedito Ruy Barbosa do livro de mesmo nome escrito por Maria Dezonne Pacheco Fernandes, a trama foi exibida originalmente na Globo entre abril e novembro de 1986 no horário das 6 da tarde e reprisada no Vale a Pena Ver de Novo entre março e julho de 1993. Contando a historia da personagem título, interpretada por Lucélia Santos. Em 1886, depois de terminar os estudos na capital, a jovem volta para a casa dos pais na fictícia cidade de Araruna. Durante a viagem conhece Rodolfo (Marcos Paulo) e os dois percebem que tem algo em comum. Suas famílias já se conhecem há muito tempo, estão indo para o mesmo destino e são abolicionistas. Logo nasce um grande amor. Não apenas um pelo outro, mas também pela causa da abolição da escravatura. Mas o pai de Sinhá Moça, o temido Barão de Araruna (Rubens de Falco) e um ferrenho defensor da escravidão, não mede esforços para tirar da cabeça de sua única filha as ideias abolicionistas, incluindo tentar distanciá-la de Rodolfo. A aventura de Sinhá Moça e Rodolfo para ficarem juntos ainda está só começando.
Novela das 6 ambientada no tempo da escravidão no Brasil, adaptação de um livro, Lucélia Santos como a mocinha, Rubens de Falco como o vilão. Uma combinação que 10 anos depois de aparecer no mega sucesso Escrava Isaura (1976/77), se repetiu. Com muita audiência no Brasil e no exterior. A novela passou em mais de 60 países, uma marca de respeito. Mesmo levando em conta que existem novelas com um número maior de exibições no exterior, como Escrava Isaura em 104 países e a campeã deste ranking, Avenida Brasil, exibida em 132 países.
Além de ser um grande sucesso da teledramaturgia brasileira, Sinhá Moça também deu sua contribuição para o futuro. No primeiro capítulo, Sinhaninha, ou melhor, Sinhá Moça quando criança e Rafael, mais do que grande amigo da então menina e interpretado na fase adulta por Raymundo de Souza, foram interpretados respectivamente pelas então crianças Lisandra Souto e Selton Mello. Que não eram estreantes, apesar da pouca idade na época. Mas nem todo ator mirim segue na profissão depois que cresce. Muitas crianças gostam de ver onde seus pais trabalham. Pedro Neschling, na época com apenas 4 anos, não só viu como também participou do trabalho de sua mãe, Lucélia Santos. Foi figurante na sequência do baile onde a misteriosa Ana do Véu (Patricia Pillar) finalmente tira de vez o acessório que leva no apelido. Mesmo com a grande influência em familia, será que a partir daí veio a vontade de Pedro em ter a mesma profissão da mãe? Talvez. Ao mesmo tempo que também contribuiu com o passado, impulsionando as vendas do livro, mesmo não sendo exatamente a mesma coisa da TV. A novela sem dúvida deu bastante visibilidade a história contada no livro, mas ela não era totalmente inédita nas telas. Foi adaptada para o cinema em 1953 e teve como protagonistas Eliane Lage e Anselmo Duarte.
Mesmo com o remake da novela, produzido em 2006 e protagonizado por Débora Falabella e Danton Mello, e se tratando de uma página triste, porém importante, da história do Brasil, será que uma novela ambientada na época da escravidão e produzida atualmente seria vista com bons olhos? Não apenas porque existem tantas outras produções ambientadas na mesma época, mas também por estarmos numa era de muitos questionamentos sobre o passado, o presente e o futuro da nossa sociedade. Esta reprise da primeira versão da novela Sinhá Moça ao mesmo tempo que faz pensar sobre isso, relembra um passado que parece tão distante mas não é, traz lembranças das exibições anteriores da novela e nos diverte e emociona com uma história de amor que vai além da relação de um casal, também é o amor pela liberdade e pela justiça. Ah, antes que eu me esqueça, sim, é estranho uma protagonista de novela que não é chamada pelo nome. Sem querer dar spoiler, mas já dando, o nome da Sinhá Moca, que raramente é citado na trama, é Maria das Gracas.