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Explode Coração


Uma interessante maneira de relembrar os anos 90 e assistir a novela Explode Coração, atualmente reprisada pelo canal Viva. Exibida originalmente na Globo no horário das 8 da noite, que começava quase às 9, entre novembro de 1995 e maio de 1996, a trama de Gloria Perez conta a historia de Dara (Tereza Seiblitz). Uma jovem cigana que tem orgulho de suas origens, mas contesta algumas tradições. Coisa que sua família também faz pelo menos de certa forma, por morar num endereço fixo, num confortável apartamento na zona sul do Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo que nao gostou de ver Dara passando no vestibular e fazendo faculdade e prometeu a garota em casamento com Igor (Ricardo Macchi) quando ela era bebê. Dara quer viver um grande amor, mas com alguém que ela ame, e nao com um desconhecido obedecendo ao que foi estabelecido pelos outros. Numa conversa através da tal de internet, Dara conhece Júlio Falcão (Edson Celulari). Um poderoso empresario, mal casado com Vera (Maria Luiza Mendonca). Dara e Júlio se tornam grandes amigos. Com o tempo, essa amizade se torna amor. Para ficar junto e viver plenamente esse amor, o casal terá que enfrentar barreiras como o preconceito da família de Dara que nao quer vê-la casada com um gadjo (homem que nao e cigano), Vera que não quer perder o marido pra outra e Igor que e apaixonado por Dara mesmo ela nao querendo nada com ele.

Explode Coração tem duas características marcantes das tramas da Gloria Perez a partir de Barriga de Aluguel (1990/91): mostrar culturas, novidades e opiniões que nem sempre tem espaço na sociedade e na mídia e o merchandising social, isto é, dar espaço a causas que podem ajudar os telespectadores de alguma forma. No primeiro caso, especialmente a internet e a cultura cigana. Que aparecem logo na abertura até mesmo profética, quando o homem usa uma tela sensível ao toque para acessar a internet e “baixar” a cigana que viu dançando (Ana Furtado em seu primeiro trabalho na TV). Num tempo que pra muitos parece tão distante, quando ter internet em casa era privilégio de poucos e não podia ser usada quando alguém queria usar o telefone fixo. Pois e, internet banda larga era um sonho pra lá de distante. Ao mesmo tempo que mostrava situações que com o tempo e a popularização da internet passaram a ser bem conhecidas, como o já citado modo que Dara e Júlio se conheceram e quando o nerd Edu (Cassio Gabus Mendes) conhece e se apaixona por Yone (Deborah Evelyn), mas tem medo de quando a moça conhece-lo pessoalmente porque não se apresentou virtualmente a ela do jeito que realmente e. No segundo caso, o principal destaque é a causa das crianças desaparecidas. O pequeno Gugu (Luis Claudio Junior) some misteriosamente e sua mãe, Odaisa (Isadora Ribeiro), se junta as Mães da Cinelândia, que sempre se reúnem numa silenciosa manifestação mostrando cartazes com fotos e dados pessoais de seus filhos na esperança de reencontrá-los o mais rápido possível. Nestas cenas apenas Isadora Ribeiro e Deborah Evelyn, que era a repórter que entrevistava as mães, estavam atuando. As outras mães mostradas viviam realmente o drama de ter filhos desaparecidos e a novela deu um espaço ainda maior a elas mostrando para todo o Brasil que elas nao sabiam onde estavam seus filhos e queriam eles de volta. Uma iniciativa que deu certo, pois algumas das crianças mostradas na novela foram localizadas e voltaram para suas famílias. Tanto nas cenas que Odaisa se juntava as Mães da Cinelândia quanto no final de cada capítulo, quando aparecia na tela a foto, os dados pessoais de alguma criança desaparecida e um telefone para contato. A causa das crianças desaparecidas merece espaço sempre, mas considerando que era mostrada uma informação factual la na época que a novela passou pela primeira vez e que provavelmente deverá ser mantida nesta reprise, fica a curiosidade. Por onde andam esses meninos e meninas que hoje são homens e mulheres? Tomara que estejam bem e tenham reencontrado suas mães.

O sucesso da trama influenciou a moda, meninas e mulheres apostaram em roupas e acessórios no estilo cigano, queriam ser estilosas como Dara. Além de inspirar várias jovens mães na hora de escolher o nome de suas filhas. Afinal, Dara e Yanca (Leandra Leal, na época com apenas 13 anos em sua primeira novela) são nomes diferentes e interessantes. A novela influenciou também as conversas. O bordão “Stop Salgadinho!” que a divertida Lucineide (Regina Dourado) sempre falava para seu marido Salgadinho (Rogerio Cardoso) pegou em todo o Brasil, serviu para vários assuntos e contextos nas conversas. Chegando também numa questão importante até hoje. Até que ponto a beleza física interfere na interpretação de um papel? Um dos aspectos mais lembrados de Explode Coração e a interpretação de Ricardo Macchi como o cigano Igor. Lembrança muitas vezes irônica de como nao se deve interpretar. Ricardo ficou marcado pelo papel, não exatamente da mesma forma que acontece quando outros atores fazem um papel marcante. Tanto que mais de 20 anos depois ele é mais lembrado por Explode Coracao e outras coisas fora da área da interpretação que fez do que pelos seus outros trabalhos como ator.

Esta viagem cheia de emoções aos anos 90 que é Explode Coração também faz lembrar do que veio um pouco antes e um pouco depois. A novela poderia ter sido esticada, já que O Rei do Gado ainda não tinha condições de estrear. Mas a Globo cumpriu o acordo com Gloria Perez de liberar a autora a tempo para acompanhar o julgamento dos assassinos de sua filha, a inesquecível Daniela Perez. A solução foi colocar no ar a “mini novela” O Fim do Mundo, com apenas 35 capítulos. Que curiosamente foi a antecessora de Explode Coração no Viva. Tomara que venham ainda mais reprises de outras produções dos anos 90. Já vieram algumas, como Por Amor e Quatro Por Quatro, as primeiras novelas exibidas pelo canal em 2010. Parece que os anos 90 foram outro dia, mas já se passou tanto tempo que e uma época que merece sempre ser recordada. Ou conhecida.

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