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Carrossel


Desde o dia 6 de agosto às 18h15 o SBT exibe mais uma vez a versão brasileira de Carrossel. Exibida originalmente entre maio de 2012 e julho de 2013 às 20h30, com uma reprise frustrada que durou apenas 15 capítulos em setembro de 2013 e uma reprise que deu certo entre março de 2015 e setembro de 2016, a adaptação de Iris Abravanel e equipe do texto de Lei Quintana e Valéria Philips, que também é uma adaptação dos textos de Abel Santa Cruz, conta a história de um ano letivo muito especial. A professora Helena (Rosanne Mulholland) assume uma turma desde o começo do ano pela primeira vez. Os alunos do 3º ano da Escola Mundial são o terror dos professores e também da diretora da escola, a rígida Olívia (Noemi Gerbelli). Helena terá muito trabalho pela frente. Mas com seu jeito carinhoso rapidamente a professora conquista a confiança e a amizade de seus alunos. Que são um grande panorama dos vários tipos de colegas que temos e tivemos. Como a esnobe Maria Joaquina (Larissa Manoela), o ingênuo Cirilo (Jean Paulo Campos), a romântica Laura (Aysha Benelli) e o amigo de todos apesar da “droga de cabeça” Jaime (Nicholas Torres). É um ano de muitas emoções, transformador não apenas no aprendizado das crianças em sala de aula e na experiência profissional de Helena.

A novela era apenas uma aposta baseada principalmente nas boas lembranças da versão mexicana de Carrossel que foi exibida pela primeira vez na emissora de Silvio Santos entre abril de 1991 e maio de 1992. Incomodando a Globo que enfrentou uma forte concorrente para o Jornal Nacional e a novela O Dono do Mundo, transformando a atriz Gabriela Rivero, que interpretou a professora Helena, em celebridade no nosso país. Com direito a descer a rampa do Palácio do Planalto com o então presidente Fernando Collor, que era um grande acontecimento na época e, especialmente, marcando pra sempre as vidas das crianças do começo dos anos 90. Mas rapidamente as crianças do século XXI também se identificaram com os alunos da professora Helena. Dessa vez Carrossel não chegou a incomodar a Globo, mas também foi um sucesso de audiência consolidando o segundo lugar de audiência no horário, e comercial, com a expressiva venda de produtos licenciados mostrando a enorme força do mercado infantil. E, posteriormente, também dos ingressos do show com as crianças do elenco, que começou na reta final da novela.

O fim de uma novela dá uma sensação de saudade, de não saber o que será dos próximos dias sem o compromisso de assistir naquele horário de sempre. Neste caso de Carrossel, o próprio SBT teve esta sensação e tentou continuar aproveitando o sucesso das mais variadas formas, não apenas nas reprises. Veio o infantil Clube do Carrossel, algumas crianças do elenco apresentaram o Bom Dia & Companhia, e quando já não eram mais tão crianças se reencontraram na série Patrulha Salvadora e nos 2 filmes de Carrossel. A maior e melhor forma que o SBT aproveitou o sucesso da novela foi continuar apostando no filão infanto-juvenil com uma pitada de saudosismo. Vieram os remakes de Chiquititas, Cúmplices de um Resgate e Carinha de Anjo. E também a atual dona do horário das 20h30, As Aventuras de Poliana, que não é remake, mas não é uma novela totalmente inédita por ser adaptação de um livro.

O tempo passa, as crianças crescem numa rapidez impressionante. Dos alunos brasileiros da professora Helena, apenas Larissa Manoela e Maisa Silva, que interpretou a espevitada Valéria, atualmente continuam contratadas da emissora de Silvio Santos. Outros continuam trabalhando na TV, embora ainda sem o mesmo prestígio da época da novela, como Fernanda Concon (Alicia) e Gustavo Daneluz (Mário), atualmente no elenco da série Dra. Darci, do Multishow. Mais alguns sumiram da mídia. Em mais um exemplo de que nem todo ator mirim quando cresce se torna uma Glória Pires, uma Isabela Garcia da vida. É preciso estudar e se qualificar, assim como em qualquer outra profissão. Também é bom lembrar que tanto o ator mirim quanto seus pais precisam manter os pés no chão, ter trabalho e reconhecimento hoje não traz garantia alguma de que isso continuará pra sempre.

É louvável o esforço do SBT de não se esquecer que crianças também assistem televisão. A própria emissora se aproveita disso. Afinal, se dá retorno é porque tem público. Para os olhos mais crescidinhos as novelas infanto-juvenis da emissora podem parecer arrastadas. Principalmente quando a emissora quer aproveitar o máximo possível os bons números de audiência editando os capítulos com muitos flashbacks e clipes das músicas da trilha sonora. Mas se mesmo assim agrada aos pequenos, é melhor ter um pouco mais de compreensão. As crianças que acompanharam Carrossel quando a versão brasileira era inédita são os adolescentes de hoje em dia. Além das crianças que se encantaram com a versão mexicana da novela na década de 90. Uma nova geração de crianças chegou, quer se identificar de alguma forma com o que veem na televisão. A essência da trama de Carrossel é atemporal, causa essa identificação desde a década de 40, quando Abel Santa Cruz publicou na revista argentina Patoruzú os “Cuentos de Jacinta Pichimahuida”, inspirados em uma professora que teve na infância. Esta atual reprise de Carrossel desagradou os fãs das novelas mexicanas que sempre marcam presença nos finais de tarde, perderam um pouco do espaço que não acabou. Mas seria a novela uma espécie de coringa garantindo uma boa audiência independente do horário de exibição, assim como o seriado mexicano Chaves? É bem provável. Certamente assim como o menino do barril e a professora Helena e seus alunos mexicanos, a versão brasileira de Carrossel continuará marcando as vidas dos pequenos telespectadores. Por essas e outras que os programas destinados aos pequenos, independente do canal, podem e devem ser mais valorizados. Todos os lados podem sair ganhando muito.

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