Desde o dia 11 de fevereiro o Canal Viva exibe a novela Porto dos Milagres de segunda a sábado às 15h30. Exibida originalmente pela Globo no horário das 8 da noite, que começava quase as 9, entre fevereiro e setembro de 2001, a trama de Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares baseada nos livros Mar Morto e A Descoberta da América Pelos Turcos, escritos por Jorge Amado, mostra que nem sempre os laços de sangue significam uma boa relação entre os envolvidos. Tudo começa quando Bartolomeu Guerreiro (Antonio Fagundes), o homem mais rico da fictícia cidade baiana de Porto dos Milagres, morre envenenado por sua cunhada Adma (Cássia Kiss). Ela e o marido Félix (Antonio Fagundes), irmão gêmeo de Bartolomeu, herdam toda a fortuna e o poder. O inescrupuloso casal não mede esforços para manter o que conquistou da pior maneira possível. Com direito a mandar matar o filho de Bartolomeu com a prostituta Arlete (Letícia Sabatella), legítimo herdeiro da fortuna do pai. Mas numa reviravolta do destino e também do mar, uma onda vira o barco e o bebê de Bartolomeu e Arlete é lançado até o barco onde estava Frederico (Maurício Mattar). Que estava desesperado depois de perder a esposa e o filho que nasceu morto. O pescador promete o bebê a Iemanjá, prometendo que o filho adotivo nunca ia se afastar do mar. Alguns anos depois, Guma (Marcos Palmeira) segue a mesma profissão de seu pai adotivo, Frederico, é o pescador mais respeitado da cidade. Ele se apaixona por Lívia (Flávia Alessandra), namorada de Alexandre (Leonardo Brício), filho de Félix e Adma. Esmeralda (Camila Pitanga) é apaixonada por Guma, acha que os dois combinam por serem de uma classe social mais simples. Mas o sentimento não é correspondido do jeito que ela gostaria que fosse. Depois que Guma não aceita a gratificação de Félix depois de salvar Lívia e Alexandre, quando o barco onde o casal estava ficou à deriva no mar, os embates começam. Guma nem imagina qual é a real ligação entre ele e seus inimigos Alexandre e Félix. Mas entre um embate e outro a verdade vai aparecendo aos poucos.
Porto dos Milagres cumpriu bem sua missão quando foi exibida pela primeira vez, garantir a boa audiência deixada por sua antecessora, Laços de Família. Mas foi uma missão trabalhosa. Uma grande característica das tramas de Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares, trama que se passa na cidade no interior com realismo fantástico, já conhecida de outras novelas, também estava presente em Porto dos Milagres. Mas só voltou 17 anos depois em O Sétimo Guardião (2018/2019). Os autores se sentiam cansados de escrever este tipo de trama na época de Porto dos Milagres. Cássia Kiss, um dos maiores destaques da novela, mostrou mais uma vez todo seu talento interpretando Adma, dona do anel mais poderoso e venenoso da cidade. Mas conciliava as gravações com teatro, o cuidado com os filhos pequenos e mais um bebê a caminho. E algumas vezes, segundo entrevista de Cássia para a revista Quem em 2012, explodia após a gravação, saía gritando e chorando. Foi uma fase complicada, mas no final das contas tudo deu certo. Zezé Polessa também foi outro grande destaque da novela, interpretando a divertida perua Amapola, sempre acompanhada por seu fiel escudeiro Venâncio, o papel que revelou Tadeu Mello para o grande público. Outra revelação de Porto dos Milagres foi Bárbara Borges, que interpretou Luiza, mais uma paquita que se tornou atriz. A cafetina Rosa Palmeirão (Luiza Tomé) também foi um grande sucesso da novela. Pela interpretação segura da atriz e pelo acessório que se tornou sua marca registrada, a coleira com uma grande rosa. Muita gente criticou a novela Segundo Sol (2018) por se passar na Bahia, mas tinha poucos atores negros no elenco. Esta reclamação também apareceu em Porto dos Milagres. E desperta um questionamento que fica para uma próxima oportunidade, como retratar bem determinada região na escalação do elenco de uma novela? Na reta final da novela, quando Guma e Félix se candidatam a prefeitura de Porto dos Milagres, o horário político saiu da trama e aparecia também durante os intervalos comerciais da Globo, como no horário político da vida real, numa curiosa estratégia de divulgação. Que deixa uma inevitável curiosidade, será que fará parte desta reprise também? Quem sabe. Outro curioso aspecto das novelas de Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares também apareceu em Porto dos Milagres. Inicialmente, o deputado Pitágoras (Ary Fontoura), deixaria a Greenville de A Indomada (1997) para visitar Porto dos Milagres por alguns capítulos. Mas o sucesso foi grande e o político ficou na novela até o final. Assim como o senador Victorio Vianna (Lima Duarte), que relembrou Porto dos Milagres ao aparecer em Senhora do Destino (2004/2005). Toda terça-feira, logo após o capítulo inédito da novela o Casseta & Planeta Urgente divertia o público com mais um capítulo da sátira Porco Com Vinagres, onde o pescador Cuma (Hubert) estava dividido entre a Pitanga e “a mulher do diretor” (numa alusão a Flávia Alessandra, na época esposa de Marcos Paulo, diretor de Porto dos Milagres).
As adaptações dos livros de Jorge Amado para a televisão, que começaram na primeira versão de Gabriela exibida pela TV Tupi em 1960 e protagonizada por Janete Vollu, sempre garantiram uma boa audiência e são uma forma muito interessante e divertida de conhecer a Bahia e ter contato com a cultura brasileira, conhecer a obra de um dos maiores escritores do nosso país. Jorge Amado se foi em 2001, mas sua obra é eterna. Ao mesmo tempo que esta obra é divulgada mais uma vez através desta reprise, o que é muito bom especialmente para os mais jovens, reaparece uma observação que já apareceu por aqui. As novelas produzidas a partir do final dos anos 90 também marcaram o público e merecem ser reprisadas. O Viva tem 3 horários para novelas na sua grade de programação. Será que é tão difícil assim para o canal reservar um desses horários para uma trama mais antiga? Distribuindo mais as épocas no processo de escolha das próximas novelas a serem exibidas, o Viva certamente continuará com o público que acompanha Porto dos Milagres e ganhará ainda mais o público que não agradou muito das mais recentes escolhas do canal. O público é a razão de ser de qualquer canal de televisão. E cabe a ele manter esse público, mesmo com outros interesses envolvidos, da melhor maneira possível. O Viva tem como fazer isso, mas pode melhorar ainda mais neste grande processo e tem tudo pra conseguir de maneira brilhante.