Uma das séries americanas mais queridas do público brasileiro é Todo Mundo Odeia o Chris. A série, produzida entre 2005 e 2009, exibida originalmente nos Estados Unidos pelos canais The CW, UPN e Nickelodeon, e atualmente exibida no Brasil nas manhãs de domingo pela Record, dentro da faixa Record Kids, e todos os dias na parte da tarde, com horários bem variáveis pelo canal a cabo Comedy Central, mistura as lembranças da adolescência do comediante Chris Rock, que também narra os episódios, com uma dose de ficção. Em 1982, Chris (Tyler James Williams) e sua família se mudam para o bairro de Bed-Stuy em Nova York. O garoto também muda de escola, vai estudar na Corleone, que é melhor do que onde ele estudava antes, mas é um ambiente dominado pelos brancos. Chris sofre com o racismo na escola, mas lá também conhece seu melhor amigo, Greg (Vincent Martella). As aventuras de Chris em casa, na vizinhança e na escola são contadas em cada episódio com muito bom humor ao mesmo tempo que abordam questões como várias formas de preconceito e o relacionamento dos adolescentes com a família e os amigos.
No Brasil a série também passou pelos canais Sony e TBS. Mas se tornou realmente conhecida do grande público na Record, onde estreou em 2007. A emissora apostou tanto no sucesso da série exibindo várias vezes por dia, que acabou sendo conhecida como Chaves da Record. Assim como o menino do barril no SBT, não importa o dia e nem o horário, Todo Mundo Odeia o Chris se tornou uma garantia de boa audiência para a emissora dos bispos. Acontecimentos da série foram e ainda são sempre lembradas em conversas e memes, como “Eu não preciso disso! Meu marido tem 2 empregos!”, famosa fala da mãe de Chris, Rochelle (Tichina Arnold) e a mania de prestar atenção até demais no valor monetário de tudo do, digamos, econômico Julius (Terry Crews), pai de Chris. Uma interessante presença no elenco da série é de Whoopi Goldberg. A atriz, conhecida pelos seus trabalhos no cinema, entrou para o elenco na 3ª temporada interpretando Louise, avó de Tasha (Paige Hurd), a primeira namorada de Chris. A série atrai o público também pelo aspecto afetivo. Pela identificação que cada um de nós tem com a família Rock e pelas lembranças dos anos 80, época tão bem percorrida pela produção.
O fim de Todo Mundo Odeia o Chris, em 2009, deixou um ar de mistério e melancolia. No 1° ano do High School, correspondente ao Ensino Médio do Brasil, Chris é reprovado por faltas e para de estudar. Algum tempo depois, ele faz a prova do supletivo e precisa de pelo menos 800 pontos, dos 1000 possíveis, para conseguir se formar. A família Rock se reúne num restaurante para descobrir junta o resultado da prova. Um misterioso homem usando jaqueta cinza e óculos escuros também entra no restaurante, dando a entender para várias pessoas que se trata do empresário que revelou Chris Rock como humorista. Quando Julius chega para encontrar a esposa e os filhos, a câmera mostra bem de perto o número 735 pintado no caminhão onde estava, insinuando que esta foi a nota que Chris tirou, portanto, não conseguiu se formar. A série definitivamente termina com Chris perguntando à sua mãe o que dizia o papel com o resultado da prova. A última temporada se passa entre 1986 e 1987. O verdadeiro Julius faleceu em 1988. Se a série tivesse continuado, seria apropriado retratar este momento tão triste? Mas a audiência nos Estados Unidos não andava boa, o que contribuiu com a decisão de acabar com a série.
10 anos depois de seu término, Todo Mundo Odeia o Chris continua fazendo muito sucesso no Brasil. A mais recente prova desse êxito é a notícia da estreia da série no catálogo do aplicativo Globoplay no mês de agosto. Assim como a exibição de Chaves e Chapolin no canal a cabo Multishow, mais uma vez a Globo consegue os direitos de exibição de uma série que é a cara de alguma emissora concorrente. É bom lembrar que o contrato dos direitos de transmissão de Todo Mundo Odeia o Chris que a Record tem é válido apenas para TV aberta. A expansão das plataformas de streaming mostra que os direitos de transmissão são bem mais amplos do que se imaginava.
Não importa a forma e nem o canal. O bom humor dos episódios de Todo Mundo Odeia o Chris diverte e nos faz lembrar do que mudou e também do que não mudou tanto assim da década de 80 até os dias atuais. E mostra que produções de qualidade tem vida longa, vão muito além do fim das gravações e da exibição do último episódio. Se transformam em momentos divertidos, boas lembranças bem variadas e tem tudo pra também marcar novas gerações de telespectadores.